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sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Criança é fogo!

O espelho


- Mamãe, compra um espelho pra colocar no meu quarto?

-Claro meu amor, também acho que precisa. Vou falar com seu pai e a gente vai comprar no sábado, pode ser?

- Aham, ele fez uma cara de contrariado; dava pra perceber que ele queria o espelho naquele dia, se possível.


A semana passou e Edu só falava do espelho. Eu percebi logo a expectativa criada na compra do objeto. Fiquei um pouco preocupada mas depois me desencanei, pois, porque uma criança de seis anos ia se preocupar tanto com um espelho? E ele me falava que não era um espelho qualquer,que era bem diferente dos que tinham lá em casa.

Chegou o tão esperado dia e fomos lá, a família feliz, comprar o espelho e mais algumas coisas que precisava.

Entrando na loja, Edu avistou um funcionário, que ele reconheceu por estar com o uniforme da loja e foi logo perguntando:

- Moço, tem espelho aqui, né? Acho que se o vendedor falasse que não, Edu teria um treco ali na hora.

- Claro que tem, quer que eu te mostre alguns modelos?

Eu estranhei aquela cena; como um vendedor oferece ''mostrar alguns modelos'' de algum produto para uma criança de seis anos e sozinha? Fui lá acompanhar o precoce. Cumprimentei o vendedor com uma cara de reprovação e fomos ver os tais modelos de espelho. Aquela história já estava me cansando.

Chegamos no local onde ficavam as peças e o funcionário foi mostrando cada uma, Eduardo dizia que não era aquela que queria, e nem aquela ali.

Chegando na penúltima peça à mostra, eu perguntei:

-Mas, meu filho, acho que o espelho que você está querendo não existe. Já olhamos todos, de tudo quanto é jeito e não é o que você quer! Explica pra mamãe como é o espelho que você tá procurando.



Eduardo ficou calado e girou os olhos por toda a loja para ver se encontrava o que queria. Logo depois, os olhinhos negros dele deram um salto e ele disse:

- É aquele ali, mamãe! É aquele ali!, apontou para o teto e sorriu!

Eu não acreditei no que estava acontecendo.

- Mas meu filho, pelo amor de Deus, você quer um espelho para colocar no teto do seu quarto?

Eu já estava constrangida e o vendedor dava risadas abafadas daquilo tudo.

-Onde você viu um espelho desses, Eduardo?

Ele, ainda com os olhinhos ainda saltitantes e brilhosos, disse:

-Ah, mamãe, lembra aquele dia que eu fui brincar na casa do Luiz Fernando?

- Aham!

-Então, a gente foi brincar no quarto da mãmãe e do papai dele e lá tinha um espelho desses, bem encima da cama. Então eu também quero um. É legal né?

Criança é fogo!

Helena Reis

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