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domingo, 5 de dezembro de 2010

Tarados também envelhecem

O velho senhor estava na biblioteca. Não, não lia. Estava sentado na enorme poltrona marrom, segurava sua bengala e tentava não pensar em nada.

A empregada entrou, olhou o velho com a máxima indiferença e começou a espanar os livros antigos da preteleira mais baixa da estante. O uniforme era um vestidinho curto e azul, bonito até.
Quando ela se abaixou para espanar, o velho fez questão de prestar atenção. As nádegas simétricas dela eram as mais bonitas já vistas por aqueles olhos cansados e tarados do senhor. Ele se ajeitou ainda mais na poltrona para obsevar aquilo de camarote. Os seios não tão grandes davam a ideia de delicadeza de busto, coisa bonita em meninas novas.

Ele, lá mesmo da poltrona perguntou:

- Tem namorado, menina?

A empregadinha estranhou. Aquele velho nunca havia dirigido a palavra a ela e agora vem perguntar se ela namorava? Ela hesitou em responder, mas não viu maldade.

- Tenho noivo, por que?

- Ele tem sorte. Pode aproveitar sozinho esse seu bumbum tão bonito!

Ela quase se ofendeu, mas achou bobagem. Aquele velho deveria ser esclerosado ou coisa assim. E também, mesmo ele sendo tarado, que mal poderia fazer a ela? Ele mal conseguia levantar da cama sem ajuda. Então deu corda:

- Pois é, ele nasceu virado com a bunda pra lua; ela deu uma risadinha escondida, se divertindo com o trocadilho mal feito.

O velho se assustou e não disse mais nada. Só resmungou para si mesmo:

- Meu Deus, que menina desbocada. Não se fazem mais empregadas como antigamente.

Ela, com um risinho no canto da boca, terminou seu serviço e saiu muda da biblioteca.

Ele, vendo-se sozinho, disse sem resmungar:

- O noivo dela nasceu com a bunda virada pra lua e ela bem que poderia ter nascido com a bunda virada pra minha janela!

Helena Reis

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